O crescimento do mercado da cerveja artesanal nos últimos anos é motivo de comemoração pelos amantes e produtores da bebida, mas o acréscimo natural dos resíduos provenientes dessa produção é uma questão cada vez mais incômoda para os cervejeiros.
A boa notícia é que se por um lado a produção de cerveja é caracterizada por um processo produtivo gerador de muitos resíduos (bagaço de malte, levedura de cerveja e trub, por exemplo), por outro, esses resíduos possuem características que possibilitam, em muitos casos, serem reutilizados em outros processos industriais.
É nesse ponto que dizemos que a gestão desses resíduos pode e deve ser feita de forma inteligente, indo além do descarte ecológico e legalmente correto.
Foi pensando nisso que nesse artigo elencamos quatro soluções para a destinação do bagaço do malte das cervejarias, considerando as necessidades ambientais, mas também oportunidades de retornos.
Se você é cervejeiro, esteja atento às oportunidades de parceria com empresas perto de você. Uma delas pode querer utilizar o seu resíduo como matéria-prima e acabar gerando bons negócios para ambas as partes.
Boa leitura!
4 soluções para o bagaço do malte
O Bagaço do malte é um resíduo sólido, orgânico, oriundo da fase inicial de produção da cerveja.
Se você trabalha em uma planta cervejeira sabe bem que no início do processo de fermentação, os grãos são moídos e embebidos em água, que absorve os açúcares. O líquido açucarado – o mosto -, é drenado e fermentado. Os grãos saem do processo em um estágio inicial, e nem chegam a ter contato com o álcool.
Apesar de os grãos estarem úmidos e sem açúcar, eles ainda são boas fontes de fibra e proteína, o que confirma o seu potencial uso no reaproveitamento em outros processos produtivos.
Num estudo sobre a reutilização do bagaço de malte publicado pela Universidade de Minho, em Portugal, os pesquisadores revelaram que o bagaço de malte, ou resíduo úmido de cerveja, representa cerca de 85% dos subprodutos advindos do processo produtivo da cerveja e que a cada 100 litros de cerveja produzidos, são gerados 20kg de bagaço.
A pesquisa concluiu, ainda, que apesar da grande disponibilidade, esse resíduo orgânico recebeu pouca atenção como uma mercadoria comerciável. No entanto, devido à sua composição química, rico em carboidratos e compostos fenólicos, pode ser valioso como matéria-prima em diversos processos para a produção de compostos de valor agregado.
Segundo o artigo, o bagaço possui excelentes características para reaproveitamento como matéria-prima para a produção de xilitol (adoçante natural), ácido lático (usado pela indústria alimentícia e cosmética) e compostos fenólicos (antioxidantes importantes do ponto de vista nutricional).
Portanto, descartar o bagaço de malte é jogar fora um composto com grande potencial de retorno, seja financeiro, seja para o meio ambiente.
Veja 4 alternativas a essa prática.
Reaproveitamento do bagaço na elaboração de alimentos
Algumas cervejarias já perceberam o poder desses grãos e os estão destinando para o consumo humano, firmando parcerias com padarias, por exemplo.
De acordo com um relatório do Journal of Cereal Science, os ganhos nutricionais com a substituição da farinha normal pelo bagaço de malte na confecção de um pão são impressionantes: o alimento passa a ter o dobro de quantidade de fibras, teor de proteína acrescido em 50%, aumenta o conteúdo de aminoácidos essenciais em 10% e diminui as calorias em cerca de 7%.
Outro estudo, desta vez realizado por alunas da Universidade de Maringá, revelou dados interessantes quando feita a substituição da gordura em hambúrgueres pelo bagaço de malte.
Segundo a pesquisa, a troca aumentou o teor de fibra e proteína, diminuiu o valor calórico e de gordura e aumentou os parâmetros de textura dos hambúrgueres. Além disso, o bagaço do malte conferiu atividade antioxidante aos hambúrgueres e o melhor: os consumidores não identificaram diferença entre as formulações, com ou sem a matéria-prima oriunda da cerveja.
A adição do bagaço aos hambúrgueres proporcionou maior valor nutricional, influenciou positivamente os parâmetros de cozimento e também foi bem aceita pelos consumidores, concluiu o estudo.
Petiscos salgados, brownies, barras de cereais e cookies feitos a partir do bagaço de malte são outros alimentos com boa aceitação do público.
A criação de uma linha de produtos alimentícios complementar ao portfólio da cervejaria é uma das soluções ao descarte do bagaço de malte.
Destinação à ração animal
Como vimos, o resíduo orgânico proveniente do processo de produção de cerveja apresenta elevadas concentrações de matéria orgânica, especialmente em razão de altas taxas de proteínas e fibras.
Esse teor nutricional é especialmente interessante também para a dieta animal e por isso, uma prática frequente das cervejarias que possuem localização próxima a uma fazenda, é destinar o bagaço à alimentação de vacas e porcos.
É uma solução inteligente: os agricultores obtêm uma fonte nutritiva de comida barata para os seus animais, e os cervejeiros se desfazem de 85% dos resíduos orgânicos da fabricação das suas cervejas.
Leia ainda: Moagem do malte – Por que é tão importante na produção da cerveja?
Compostagem e geração de energia
Outra opção sustentável para as cervejarias é a utilização ou descarte em parceiros que se favoreçam com o processo biológico de decomposição do material orgânico em biogás – para energia – e em produto sólido – para uso como fertilizante.
Os grãos podem oferecer seus nutrientes em forma de ótimos fertilizantes para jardins e hortas, resultando na produção de alimentos para o consumo humano.
Outra opção, é utilizá-los como substratos para produção de cogumelos, que pode ser feito por parte de algum parceiro ou mesmo com a criação de um novo negócio por parte das cervejarias.
Utilização do bagaço de malte na produção de plásticos biodegradáveis
Assim como tem sido empregados caroços do abacate, bagaços de cana-de-açúcar e outras fibras vegetais, o bagaço de malte também pode ser reaproveitado para a fabricação de polímeros biodegradáveis a base de amido.
O bioplástico é uma solução inteligente que tem ganhando cada vez mais importância e demanda e sem dúvida pode representar interessante oportunidade de destinação do principal resíduo das cervejarias, sobretudo para o planeta.
Embalagens tradicionais que utilizam como matéria-prima materiais sintéticos demoram até 200 anos para desaparecer do meio ambiente, enquanto estudos acadêmicos apontam que uma embalagem constituída por bagaço de malte oferece um custo menor, baixa toxicidade e um tempo de biodegradabilidade de aproximadamente 14 dias.
É ou não é uma baita alternativa ao descarte desses resíduos sólidos?
Esperamos que a indústria bioquímica encontre cada vez mais soluções como essa e que essas ideias possam inspirar cervejarias inovadoras a procurar formas de controlar o desperdício e usar todo o potencial do bagaço de malte!
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