Descubra os detalhes que diferenciam um do outro.
Talvez você já tenha se feito essa pergunta e talvez até tenha a resposta na ponta da língua:
“Não, claro que não! Chopp e cerveja não são a mesma coisa!”
Mas na hora de explicar qual a diferença entre chopp e cerveja você dá aquela gaguejada, confunde alguns conceitos e percebe que, na prática, a teoria não é tão evidente.
E foi aí que você deu um Google para tirar a prova real.
Chopp e Cerveja: qual a diferença entre eles, afinal?
Pois bem! Aqui estamos nós da Escola Superior de Cerveja e Malte para te dizer que sim, sua intuição está 100% certa. Chopp e cerveja têm diferenças pontuais e nós já vamos esclarecer quais são elas logo abaixo.
Mas antes de seguirmos, uma pausa para outra reflexão: afinal de contas, escreve-se Chope ou Chopp?
Você sabe? Outra pergunta digna de uma googlada, não é mesmo?
Confira essas e outras curiosidades sobre cerveja e chopp (ou chope?) agora mesmo!
Chope ou Chopp: qual é o certo?
Pasmem: a grafia correta é chope.
A palavra chopp – embora amplamente utilizada nos cardápios, campanhas publicitárias e fazer parte do nome de cervejas comerciais de grande vendagem – não é registrada no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras.
Portanto, a palavra chopp não existe oficialmente no idioma português e tecnicamente o correto é escrever Chope.
Mas de onde veio a palavra Chopp, então?
Tudo indica que a origem deriva de Schoppen, palavra alemã que traduzida pelos dicionários modernos significa: “quartilho” ou “caneca de cerveja”.
Aliás, em francês, a palavra Chope também significa caneca de cerveja e tem a mesma escrita adotada na Língua Portuguesa. E, veja só, segundo o Larousse da Língua Francesa, chope viria de chopine, que corresponde, precisamente, a quartilho na Língua Portuguesa.
Por isso é que se diz que a palavra chope inicialmente designava não a bebida, como fazemos hoje no Brasil, mas uma unidade de medida de volume.
Um quartilho, em português de Portugal; um chopine, em francês ou um schoppen em alemão, equivalia a cerca de meio litro, exatamente o que cabia em uma clássica caneca de cerveja, ou melhor, de chopp!
A lógica, ao final, é a mesma de Pint, em inglês.
Aqui no Brasil acabamos adotando oficialmente a palavra chope, embora a redução de schoppen seja mais popular. A palavra chopp é pelo menos vinte vezes mais digitada no Google que chope!
Uma das explicações para esse fenômeno está na associação simultânea da cultura germânica com boa cerveja.
Justo, não é mesmo?
É por isso que em Blumenau se bebe chopp! A cidade detentora do título de capital brasileira da cerveja, sede da segunda maior Oktoberfest do mundo – e também da ESCM! – foi fundada por alemães, os pais do schoppen!
Mas fora do sul do país a realidade não é muito diferente. Também vemos a palavra escrita com dois “ps”, como se fosse parte do nosso léxico desde Cabral.
Tanto é assim que a palavra Chopp está escrita no rótulo de uma das principais cervejas da AmBev e também cravado na memória de consumidores dos tempos em que cerveja fazia publicidade na TV sem qualquer restrição de horário e conteúdo: Brahma Chopp, a número 1.
Lembrou, né?
Foi assim que acabamos incorporando o chopp no nosso vocabulário… e foi assim que a dúvida ficou ainda maior:
Se schoppen quer dizer caneca de cerveja e se está escrito chopp na garrafa de cerveja, então chope é cerveja?
Como nós já adiantamos no início desse post, chope e cerveja não são a mesma coisa.
Mas se a resposta é óbvia no paladar, no conceito a dúvida sempre existiu. Tanto que no ano de 2018, a discussão saiu do bar da esquina e foi parar no Tribunal.
É sério.
De um lado, a União alegava que “cerveja” e “chopp” eram produtos distintos, requerendo, por isso, que a Ambev deixasse de utilizar a expressão “chopp” em seus rótulos.
Do outro, a maior empresa cervejeira do Brasil sustentava ter registro da expressão “chopp” no INPI, o que lhe assegurava o direito de comercialização do produto – a cerveja, no caso – naqueles termos.
No final do embate judicial, apesar do mundo inteiro concordar que chopp e cerveja não são a mesma coisa, o TRF da 3ª Região bateu o martelo a favor da Brahma, permitindo o uso da expressão “chopp” na sua garrafa de cerveja.
Veja só o que os juízes entenderam:
“Apesar de a empresa utilizar o termo ´chopp´ em seus rótulos de cerveja, comprovou-se que os consumidores não confundem os produtos, sendo a cerveja ‘Brahma Chopp’ notoriamente conhecida há décadas como marca de renome, salientando-se que há diferença também no envase e modo de servir entre a cerveja e o chopp, o que é de senso comum”.
A decisão acima baseou-se em uma pesquisa que demonstrou que 94% das pessoas afirmaram que se tratava de cerveja ao visualizar figuras de garrafa e lata de “Brahma Chopp”.
Você também não se confundiria, não é mesmo?
Como se vê, diante dos olhos e da embalagem, a tarefa de distinguir uma cerveja de um chopp parece fácil. Mas, então, é só isso?
A diferença entre chope e cerveja está apenas no envase e no modo de servir, como disse Vossa Excelência?
Bem, resolvida a semântica e a briga judicial, vamos ao que interessa: descobrir o que separa realmente uma cerveja de um chope.
Qual a diferença entre chopp e cerveja, afinal?
Se você pensa que o que diferencia uma cerveja de um chopp é o envase e a forma de servir – como ressaltou o magistrado no caso da Ambev – você e ele estão certos, mas não por completo.
Anota aí quais são as principais diferenças entre chopp e cerveja:
Pasteurização
Só para lembrar, pasteurização é o processo que utiliza calor para inativar microrganismos dos alimentos. No caso da maior parte das cervejas, elas passam por esse tratamento térmico antes mesmo de serem engarrafadas: eleva-se a temperatura da cerveja por volta de 65°C e a mantém nessa condição por alguns minutos.
Já com o chope, a história é diferente.
Segundo a mais recente Instrução Normativa do Ministério da Agricultura sobre o assunto (IN n. 65 de 10.12.2019),
É na pasteurização que reside o ponto crucial de diferenciação entre chope e cerveja.
A expressão “chopp” ou “chope” é permitida apenas para a cerveja que não seja submetida a processo de pasteurização, tampouco a outros tratamentos térmicos similares ou equivalentes.
Ou seja, quando o líquido formado de água, malte e lúpulo passa pelo processo de pasteurização, ele é chamado cerveja. Na ausência de tratamento térmico, temos o tão estimado chope.
Se de um lado essa etapa elevação da temperatura é importante para manter a estabilidade microbiológica da cerveja, por outro lado, acaba por inativar ou eliminar todos os seus microorganismos vivos.
A consequência?
Alterações nos atributos sensoriais, como aroma e sabor, da sua cerveja.
Mas calma, sem pânico. Isso é assunto para outro post, mas garantimos desde já: a pasteurização não é um vilão da sua bebida preferida.
Contudo, entretanto, todavia… essa substancial diferença entre cerveja e chopp as tornam, por consequência, distintas também em outros aspectos.
Vamos a eles.
Envase
O comum é que a cerveja seja envasada em latas ou garrafas, enquanto o chope é acondicionado em barris de inox.
Isso porque, em razão da pasteurização, a cerveja tem prazo de validade bem mais longo. Já o chopp é mais sensível e deve ser consumido o quanto antes. Evitando a fase de envase em garrafas pequenas, ganha-se tempo e qualidade.
Ainda considerando o fator fragilidade, o barril é ideal para preservar o sabor original do chopp, já que evita exposição à luz, a inimiga número um da bebida.
Mas essa forma de envase diferenciada, apesar de comum, não é uma exigência legal. Tanto é assim que hoje é possível encontrar cervejarias artesanais vendendo chopp em garrafas e grandes cervejarias acondicionando cerveja (a bebida pasteurizada) em barril.
Nesse caso é bom ficar duplamente atento: no primeiro caso, ao curto prazo de validade do chopp engarrafado; no segundo, para não cair no “conto do chopp” que é, na verdade, cerveja tirada sob pressão.
Carbonatação
E por falar em pressão…
O chopp e a cerveja também diferem na quantidade de dióxido de carbono que contêm. Lembrando que o CO₂ é o responsável pelas borbulhas que encontramos nos refrigerantes e cervejas, que conferem aquela agradável sensação de refrescância na boca.
Esse gás é produzido naturalmente na fase de fermentação do mosto, mas ele pode ser incrementado artificialmente. Esse artifício é usado quando se quer atingir a carbonatação desejada de uma cerveja ou, no caso do chopp, para extrair a bebida do barril.
E é por isso que o chopp é significativamente mais carbonatado do que a cerveja engarrafada, uma medida necessária para que ele esteja saboroso e espumante até o final do barril.
Temperatura
Uma boa cerveja deve ser sempre degustada na temperatura certa. E a temperatura certa não é a mesma para todos os estilos de cerveja.
Pelo contrário!
Deixar a cerveja ficar estupidamente gelada pode simplesmente matar todos os aromas inestimáveis da bebida.
Já no caso do chope, a temperatura de degustação não varia muito: está sempre entre 3 e 5° C. Nesse intervalo, os especialistas garantem: os aromas e a espuma do seu chopp são preservados.
Conservação
Sem o processo de pasteurização, o chopp preserva ao máximo os aromas naturais da bebida, mas também perde qualidade muito rápido.
Consequentemente, o chopp deve ser consumido o mais rápido possível, em média 6 dias após a abertura do barril, que deve permanecer refrigerado.
Quando fechando, em geral, para um barril de 5 a 6 litros, tanto os aromas quanto a pressão do chopp mantêm-se bem em 30 dias.
Por outro lado, no caso da cerveja em garrafa, a conservação é bem mais longa, podendo assim ir até vários meses na geladeira.
Para algumas cervejas, inclusive, o envelhecimento é uma vantagem bastante interessante. Quando mantidas longe da luz e do calor, o tempo é um aliado na melhora dos sabores.
Conservantes, Antioxidantes, Estabilizantes
Há quem jure de pé junto que chopp que é chopp não leva conservantes, antioxidantes nem estabilizantes químicos na sua composição. Mas isso só quem pode garantir é o fabricante.
Legalmente, chopp é apenas uma cerveja que não foi pasteurizada e ponto final.
Sabor
E, para finalizarmos, não podemos deixar de entrar no âmago da velha discussão da mesa de bar: qual é melhor, chope ou cerveja?
Quando o assunto é sabor, de regra, o chope é um produto fresco, acabado de fazer. Portanto, tem um sabor na sua máxima intensidade.
No caso da cerveja engarrafada, como já demonstrado em inúmeros estudos, o processo de pasteurização altera, efetivamente, os atributos sensoriais da cerveja.
Além disso, o envase da cerveja pode ter ocorrido há meses da data do consumo. E, como a maioria dos ingredientes utilizados na fabricação da cerveja são sensíveis às condições externas, como luz e temperatura, ainda que a bebida esteja no período de validade indicado no rótulo, é comum que ela tenha sofrido alteração nas suas propriedades organolépticas.
Nessas condições, o barril, perfeitamente hermético ao oxigênio e aos raios ultravioleta, leva vantagem.
E então? Agora que você já sabe qual a diferença entre chopp e cerveja, com qual deles você escolhe brindar hoje?
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