Se você é um entusiasta da cerveja, provavelmente já se deparou com termos como IPA, Lager, Stout e tantos outros. Mas você já parou para pensar por que esses estilos existem, como são definidos e por que eles mudam com o tempo?

Essa foi a temática central da palestra de Gordon Strong, figura renomada no universo cervejeiro e presidente do Beer Judge Certification Program (BJCP), realizada no Seminário Internacional da Cerveja 2025 promovido pela ESCM. 

Com uma paixão declarada pelo Brasil, Gordon Strong desmistificou o conceito de estilos, explicando sua origem, propósito e a complexa dinâmica de sua evolução.

Prepare-se para uma viagem fascinante pelo mundo dos estilos de cerveja, entendendo como eles são mais do que apenas rótulos!

Por Que Estilos de Cerveja? A Necessidade de um Idioma Comum

A ideia de “estilo de cerveja” é relativamente recente, popularizada pelo escritor inglês Michael Jackson em 1977. Antes disso, as pessoas falavam apenas em “tipos” ou “tipologias” de cerveja. 

A necessidade de uma categorização surgiu com o crescimento de concursos e a busca por um sistema de avaliação justo.

Gordon Strong explicou que os estilos não são regras rígidas para os cervejeiros, mas sim um sistema de categorização com perfis sensoriais detalhados. O objetivo principal é criar um campo de jogo nivelado para competições, onde todas as cervejas são avaliadas por critérios comuns, garantindo imparcialidade.

O BJCP é a organização líder nesse processo, criando diretrizes que descrevem os estilos clássicos (os que são feitos ao redor do mundo) e as cervejas especiais (que geralmente incluem ingredientes extras como frutas ou especiarias). 

Essas diretrizes servem como referência para juízes e cervejeiros, sendo amplamente utilizadas em concursos internacionais e até mesmo por consumidores que buscam entender melhor o que estão bebendo. 

Uma vantagem importante é que as diretrizes do BJCP são gratuitas e acessíveis online.

Como os Estilos Nascem e São Reconhecidos?

O processo de inclusão de um novo estilo nas diretrizes é rigoroso e envolve várias etapas:

Validação da Existência: É o estilo realmente produzido em quantidade e por diversos cervejeiros (incluindo caseiros)? Há demanda e participação em concursos? O Catharina Sour é um exemplo de sucesso nesse quesito no Brasil.

Criação de Perfil Sensorial: Uma vez confirmada a existência e a relevância, são realizados painéis de degustação com diversos exemplos do estilo. Os juízes descrevem minuciosamente as características sensoriais para criar um perfil detalhado.

Verificação de Originalidade: O novo estilo é realmente diferente de algo já existente? O BJCP busca evitar a duplicação de estilos sob nomes diferentes para não gerar confusão.

Validação Final: Degustações com as diretrizes propostas são realizadas para garantir que o perfil sensorial descrito reflita fielmente as características do estilo.

Gordon Strong destacou o Catharina Sour como um case de sucesso desse processo, fruto de uma colaboração entre cervejeiros profissionais e caseiros (Acerva). Após a proposta inicial, painéis de degustação e validação, o estilo foi reconhecido e incluído nas diretrizes provisórias do BJCP.

Por Que Alguns Estilos Não Entram (ou Saem) das Diretrizes?

Nem toda novidade se torna um estilo reconhecido. Alguns motivos para isso incluem:

• Muito Novos ou Instáveis: Estilos que estão em constante mudança ou que não possuem exemplos consistentes para serem descritos, como foi o caso da Brut IPA nos EUA – uma moda passageira.
  
• Modismo Local: Alguns estilos podem ser populares em uma região, mas não ter consistência ou relevância global. A Black IPA, por exemplo, que foi um modismo nos EUA, encontrou uma melhor e mais duradoura expressão na América do Sul, segundo Gordon.
  
• Falta de Dados: Se não há exemplos suficientes ou informações para criar um perfil sensorial detalhado, o estilo não pode ser incluído.
  
• Sem Diferenciação Suficiente: Estilos propostos que são muito semelhantes a outros já existentes não são adicionados.

Gordon ressaltou que as diretrizes seguem o mercado, não o lideram. O papel do BJCP não é criar tendências ou promover estilos, mas documentar e categorizar o que já existe e é feito em escala.

O Potencial Brasileiro: Ingredientes, Criatividade e Tendências

Gordon Strong elogiou a criatividade e a capacidade dos cervejeiros brasileiros de incorporar ingredientes locais e dar um toque único a estilos já existentes. Ele destacou o “Hop Lager” como um exemplo de estilo que, embora não seja formalmente um estilo BJCP, demonstra uma característica distinta e um potencial de diferenciação.

O Brasil tem um vasto campo para explorar com ingredientes como frutas (caju, araçá), madeira, especiarias e café, que podem ser a base para novos estilos que imprimam uma identidade nacional. A combinação da paixão brasileira com a capacidade de adaptar e inovar pode, segundo Gordon, levar ao reconhecimento de novos estilos, contanto que eles demonstrem consistência e demanda.

O processo de atualização das diretrizes do BJCP ocorre a cada cinco anos, sendo a última em 2021. Novidades promissoras podem ser incluídas como estilos provisórios, como foi o caso do Catharina Sour, antes de uma atualização completa.

A palestra de Gordon Strong reforça que o mundo da cerveja está em constante movimento. Entender a lógica por trás dos estilos é fundamental para cervejeiros que buscam inovar e para consumidores que desejam aprofundar seu conhecimento sobre essa bebida milenar.

Este artigo é apenas uma amostra do vasto conhecimento compartilhado por Gordon Strong. Ele aborda em profundidade a metodologia do BJCP, a relevância cultural dos estilos e as projeções futuras para a inovação cervejeira global, incluindo o promissor cenário brasileiro.

Para ter acesso à palestra completa “Tastes in Transformation: Beer Styles – Past, Present, and Future – How styles are created and evolve” e mergulhar em todos os detalhes, preencha o formulário abaixo com seu e-mail. Você receberá o link da gravação diretamente na sua caixa de entrada, para assistir quando e onde quiser.

Não perca a oportunidade de aprofundar seu conhecimento e entender as tendências que moldam o futuro da cerveja!