Sabe-se que já houve a cultura do lúpulo no Brasil em séculos passados.
Tá bem, mas o que é lúpulo e como ele chegou no Brasil?
Antes de entrar na produção brasileira de lúpulo, de fato, é preciso entender um pouco sobre o que ele é… O lúpulo é uma liana europeia da espécie Humulus lupulus, da família Cannabaceae, e que é tradicionalmente usado, junto com o malte, a água e a levedura, na fabricação de cerveja1.
Mesmo sendo apenas uma única espécie, existem diversas variedades de lúpulo, cada uma com características bem definidas, variando em potência e aromas.
Ao fazer a cerveja, no calor do cozimento do mosto, o lúpulo libera suas resinas conferindo sabor e aroma à cerveja. Isso porque as resinas do lúpulo são compostas por dois principais ácidos: alfa ácidos (que têm um leve efeito antibiótico/bacteriostático contra a bactéria Gram-positiva, e favorece a atividade exclusiva da levedura durante a fermentação da cerveja) e os beta ácidos (não isomerizam durante a fervura do mosto e têm um efeito desprezível no sabor da cerveja, entretanto, contribuem para o aroma da cerveja).
O plantio de lúpulo no Brasil tem uma história recente e a produção em larga escala no Brasil é considerada muito difícil pelos cervejeiros, principalmente pela questão climática, pois carece de clima frio, altitude e de 13 a 15 horas de luz ao dia.
Lúpulo no Brasil: quem produz?
A história mais conhecida é a da Baden Baden. A cervejaria, de Campos do Jordão, em parceria com a fazenda Entre Vilas, realizou sua segunda colheita de lúpulo brasileiro. É uma plantação de lúpulo robusta, com aroma que lembra flor de maracujá. Mesmo após uma temporada difícil para a agricultura na Serra da Mantiqueira, com poucos dias de frio, muitas chuvas e até granizo caindo sobre a plantação, o lúpulo vingou.
Por outro lado, segundo o produtor Rodrigo Veraldi, as pesquisas com lúpulo, feitas em diferentes instituições do país, vão de vento em popa e em breve será possível ter mais algumas variedades da planta com o terroir brasileiro.
Rodrigo é proprietário do Viveiro Frutopia, de São Bento do Sapucaí (SP), que vem desenvolvendo desde 2005 o trabalho de pesquisa e cultura de lúpulo no Brasil. A variedade que ele cultiva, que recebe o nome Mantiqueira (devido à região onde foi plantado), não é clone, nem obtida a partir de muda. Ela foi obtida com sementes, que se adaptaram ao solo e às condições climáticas do Brasil, gerando uma nova planta. O lúpulo Mantiqueira tem 4% de alfa-ácidos e uma boa quantidade de óleos essenciais medidos em laboratório. Tais óleos essenciais, que conferem aroma, são ricos em fruity, spicies e herbal.
Cerveja com lúpulo brasileiro é possível?
O engenheiro elétrico Fernando Borsoi, comanda uma bela plantação de lúpulo no interior do Rio Grande do Sul em Antônio Prado, já tendo feito, inclusive, uma Harvest Ale. Leonardo Sewald, da cervejaria Seasons, de Porto Alegre, foi colher sua encomenda diretamente na fazenda e a utilizou para fazer a primeira harvest ale de que se tem notícia por aqui (que recebe este nome por ser produzida na época de colheita do lúpulo, utilizando-o fresco). Segundo ele, a variedade em questão é herbal e resinosa, mas carece de mais aroma, pois este ficou discreto, com notas de lima e baixo amargor2.
Neste primeiro final de semana de agosto a cervejaria Loba (MG) produziu 500 litros de uma cerveja experimental com o lúpulo Mantiqueira, colhido na Fazenda Fartura. O que é uma exceção, pois a maior parte dos cervejeiros brasileiros está resistente a experimentar as variedades nacionais, segundo Pedro Salim, produtor da Fazenda Fartura, em Rio Espera, na Zona da Mata³.
Tem ciência por trás disso tudo!
Sabe-se que algumas instituições de grande porte, como a Universidade de São Paulo (USP), já estão à frente de pesquisas importantes voltadas para o cultivo da planta, e, além disso, grupos de produtores agrônomos e cervejeiros estão trocando ideias e partindo para as pesquisas in loco.
Surgem também as primeiras organizações com o objetivo de gerar informações e fomentar a cultura do lúpulo no Brasil, a Associação Brasileira de Produtores de Lúpulo (Aprolúpulo), sediada em Lages (SC) é pioneira. A associação foi criada em maio deste ano e já possui 50 associados. A secretária administrativa da associação, Mariana Fagherazzi, que é doutoranda em Produção Vegetal, diz que, através da Aprolúpulo os produtores conhecerão técnicas agrícolas e administrativas para o cultivo e poderão participar e contribuir com o processo de comercialização.
Vendo este panorama, é possível que, no Brasil, muito em breve seja possível encontrar o produto nacional para ser vendido até para a produção caseira. Mas resta saber se carregará o terroir brasileiro, se terá qualidade suficiente, se seu custo benefício será plausível e se, finalmente, será mesmo o primeiro passo _de uma longa caminhada_ em direção à genuína Escola Brasileira de Cerveja.
Nativo de onde?
São poucos os países produtores de lúpulo porque a planta não aceita qualquer clima ou terreno. Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra e República Tcheca são os mais famosos, mas a Nova Zelândia, Austrália, Japão e parte da região andina da Argentina tem apresentado variedades muito interessantes.
Quer saber mais sobre o lúpulo e suas variedades? Então conheça o curso de Aprofundamento em Lúpulo da ESCM.
1 https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%BApulo
2 https://www.estadao.com.br/noticias/geral,sua-teima-e-fazer-lupulo-brasileiro,4527